O problema para os humanos que somos está na fala (e, por acréscimo, na sexualidade). Na educação, na governação, na psicanálise, profissões insustentáveis, - impossíveis dizia Freud - às quais Lacan acrescentou a ciência, o que angustia o profissional é a fala: a do outro e a própria. Talvez mais a própria, aliás. São trabalhos em que aquele que os exerce sabe que é aquilo que disser no seu exercício, o que faz acto. Eis o que é duro de sustentar.
Daí que, hoje, nas democracias do "senhor-toda-a-gente", floresça o cognitivismo comportamental. O seu princípio é exactamente evitar a fala: para ele, governar, educar ou curar é domesticar, treinar comportamentos predefinidos socialmente, transformar os humanos em pseudo animais previsíveis recalcando o sujeito, a pulsão, o desejo, em suma, o significante e a relação de cada um ao objecto que falta. Recalcamento com consequências. Porque só assumindo aquela falta ou perda se tem acesso ao mundo da representação onde o desejo se alimenta e se orienta e onde se asseguram as identificações sexuais.
Pensa-se hoje que a técnica pode resolver todos os nossos problemas - frio, fome, doença, mal-estar, capricho, solidão, comunicação... Mas não está em seu poder curar-nos nem da fala nem da sexualidade, nem do muro que existe entre um homem e uma mulher. A esse muro Lacan chamava linguagem.