Pintos 3.89

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Rua do Cabido 43
Coimbra, 3000-087
Portugal

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Pintos Pintos is one of the popular place listed under Restaurant in Coimbra , Wine Bar in Coimbra , Residence in Coimbra ,

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Localizada no extremo da Rua do Cabido, no centro nevrálgico da 'Alta' da cidade, sempre teve com a comunidade universitária uma relação estreita, que vai resistindo às transformações urbanas e sociais.

A Tasca do Pinto, O Pinto, ou O Pintos, como mais comummente é designada, embora a oficial seja Casa Pinto, Comidas & Petiscos, primeiramente tinha como fregueses funcionários da Universidade e dos Hospitais da Universidade (HUC), que gradualmente foram sendo substituídos por estudantes.

Os HUC foram transferidos para um edifício novo em Celas. Os funcionários da Reitoria e das faculdades foram perdendo o hábito de aí virem, mas deixaram uma marca da sua passagem. Foram os insistentes pedidos de «uma sopinha» que fez juntar as refeições ao tradicional serviço de vinhos e petiscos.

A taberna que nos anos 40 O Espanhol aí criara num armazém de lenha para uso doméstico, viera substituir uma outra destruída pelo Estado Novo quando arrasou parte da 'alta' para edificar o complexo universitário. O casal Luís e Adelina Pinto tomou-a de trespasse em 1978, poucos meses após regressar de Moçambique, e conferiu-lhe uma nova identidade.

Emigrados para Moçambique, ele durante 20 anos e ela 10 anos, após um casamento por procuração, «para não gastar dinheiro», regressaram já depois da independência, porque pensaram nas filhas e na sua formação escolar, que um dia lhes pudesse proporcionar uma vida mais desafogada.

Ambos naturais de aldeias do concelho da Meda, em Lourenço Marques (actual Maputo) deixaram uma casa que tinham comprado a pensar nas filhas, próximo da universidade local, e que foram pagando com os salários de empregados do comércio em estabelecimentos 'no mato', na zona de Maguda, a cerca de 180 quilómetros da capital da então província ultramarina.

Adelina voltou mais cedo, com as filhas, e Luís lá ficou mais três anos, até Outubro de 1977. Luís, que «levara no bolso dois contos e quinhentos», quando regressou só lhe foi permitido trazer 13 rand (a moeda da África do Sul), que lhe proporcionaram 390 escudos, e os últimos 20 gastou-os no taxi entre Vila Franca das Naves e a sua aldeia, Curiscada, no concelho de Meda.

Luís, conta Adelina, tinha uma grande paixão pelo Fado de Coimbra. Quinzenalmente, quando o Rádio Clube emitia um programa com esse género musical obrigava ao silêncio os clientes do estabelecimento comercial em Moçambique para se deixar enlevar pela música nos 15 minutos que durava.

Coimbra, que na sua vida vira apenas para tomar o comboio na partida para Moçambique, ficou na ideia. Com a sua universidade também podia proporcionar outro futuro às filhas. Como as lides na agricultura não davam grandes esperanças, rumaram à cidade e tomaram de trespasse a antiga taberna do Espanhol, transformando-a num ex-libris da 'alta'.

Sete dias por semana, das 07:30 até às 22:00, por vezes até à meia-noite ou 1 hora da madrugada, aí foram trabalhando até que há dois anos decidiram fechar ao domingo, porque «não se justificava». A 'Alta' foi-se desertificando. Os estudantes também já são menos e mudaram os hábitos. Também desde essa altura o movimento caiu muito. As pessoas «vão de lancheira» para o trabalho e são raros os que aí tomam a refeição.

Adelina, actualmente com 68 anos, e Luís com 78 anos, não pensam em largar a actividade. A vida na taberna «é uma terapia, porque senão vamos para o cemitério. Damos graças a Deus por estar aqui», diz ela, acrescentando que é também uma ajuda para as magras reformas, porque o tempo de trabalho em Moçambique não lhes foi contado.

«Ó Luís, será que fazemos a Queima? Ó Luís será que fazemos a Latada?», são perguntas recorrentes que Adelina faz ao marido, olhando para o futuro após uma longa e dura vida, em que diz nunca terem feito qualquer pausa para férias.

A Queima das Fitas, em Maio, e a Latada, em Outubro/Novembro, em que a Universidade festeja a entrada de novos estudantes, são momentos marcantes na taberna do Pinto. O movimento é intenso, mas também porque chegam aí com familiares antigos estudantes que a frequentaram há 10, 20 e mais anos.

É altura para saber novidades de cada um, de grupos de amigos se encontrarem. Nas paredes das duas salinhas, ornamentadas com meia dúzia de mesas, vão ficando testemunhos da passagem - fotos, recortes de jornal, ou até desenhos e pinturas, algumas delas a evocar os 10, os 20 e os recentes 30 anos da Taberna do Pinto.

Por cima do balcão, tal como bandeiras desfraldadas, dezenas de pontas de gravatas negras testemunham a passagem por aí de estudantes a festejar o 'rasganço' do traje académico, quando terminam o curso.

Antigamente o novo doutor arribava aí com um grupo e entregava 10, 20 contos, ou 100 euros, e pedia para servir bebidas e petiscos até acabar. Hoje, nos rasganços, ainda vão lá comprar umas garrafas de vinho, «para cumprir a tradição», porque a maioria das bebidas para festejar são adquiridas «no Continente».

Hoje, na Taberna do Pinto já não há as tradicionais pipas de vinho, tal como «o progresso» as fez desaparecer de outras tascas da cidade, mas o vinho ainda é servido ao copo, de garrafões que compra na zona de Anadia.

Pouco já confeccionam dos petiscos que faziam crescer a água na boca, porque não têm saída - a sardinha frita de escabeche, a sardinha albardada, o carapau frito ou as iscas de fígado.

Refeições também servem poucas, porque o tempo é de crise, e os hábitos foram mudando, mas são sempre preparadas quando alguém quer, a qualquer hora. Há ainda quem não se esqueça do «arrozinho de pimentos» e da «bifaninha», que a Adelina tempera com alho, sal, um pouco de colorau e vinho branco, e representam uma iguaria única para muitos.

A Taberna é «a vida» de Luís e Adelina, e querem mantê-la até poderem. Com ela realizaram um dos seus mais importantes sonhos - um futuro diferente para as filhas, licenciadas em enfermagem e serviço social. É também o cais de vivências e afectos de gerações que lá acostam. "

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